A meio caminho entre "Mad Men" e "Anjos na América", "FELLOW TRAVELERS" percorre as últimas décadas da história norte-americana do século XX através do relacionamento acidentado entre dois homens. O primeiro episódio da minissérie, disponível na SkyShowtime, propõe um arranque brilhante.
Um tempo em que os homossexuais eram tão perseguidos como os comunistas - a América de McCarthy dos anos 50 - não foi o mais favorável para que a história de amor no centro deste drama (cruzado pelo thriller político) pudesse esperar um final feliz. E no entanto, a relação entre as personagens principais da minissérie inspirada no romance homónimo de Thomas Mallon (editado em 2007) manteve-se ao longo das décadas seguintes, apesar de outros obstáculos que foram surgindo pelo caminho - de um casamento com uma mulher às ameaças trágicas da sida.
Criada por Ron Nyswaner, argumentista do emblemático "Filadélfia" (1993), de Jonathan Demme, ou do mais recente "My Policeman" (2022), de Michael Grandage, outro olhar meritório sobre um relacionamento gay, "FELLOW TRAVELERS" mergulha nas tensões de dois homens do universo político de Washington cuja cumplicidade pode colocar não só as carreiras mas as vidas em risco, pelo menos durante os tempos socialmente atribulados em que se conhecem. Um mais pragmático, encaminhado para uma vida dupla, outro mais idealista, que insiste em não esconder a relação, são ambos o foco emocional e narrativo de uma saga de grande fôlego, que se alarga até aos anos 80 e revisita vários episódios-chave da história norte-americana de finais do século passado.
Nyswaner, que além de argumentista para cinema também escreveu e produziu séries como "Segurança Nacional" ou "Ray Donovan", parece perfeitamente à vontade neste registo no primeiro dos oito episódios, dirigido com brilho por Daniel Minahan ("Sete Palmos de Terra", "Deadwood") e a beneficiar de uma óptima recriação de época e direcção artística - tão sumptuosas como as de séries como "Mad Men" ou "Anjos da América", das quais esta história também se aproxima tematicamente.
Não por acaso, a personagem de Matt Bomer tem sido comparada ao icónico Don Draper de Jon Hamm, ao vestir a pele de playboy que se move com facilidade em ambientes burocráticos. Mas o actor, naquele que se perfila como um dos seus desempenhos mais memoráveis, também sugere a angústia que corrói um homem incapaz de lidar com os seus fantasmas. Embora com menos tempo de antena no arranque, Jonathan Bailey é igualmente credível enquanto recém-chegado aos bastidores da esfera política, debatendo-se com a perspectiva de um relacionamento homossexual depois de anos numa comunidade católica.
Além do contexto bem desenhado, "FELLOW TRAVELERS" sobressai ao saltar do geral para o particular, sobretudo nas cenas dos protagonistas a sós entre quatro paredes - uma oportunidade única para revelarem facetas camufladas de forma quase exclusiva. E por isso as cenas de sexo, inesperadamente cruas numa produção de moldura clássica, adquirem um peso fundamental, ao ajudarem a estabelecer a dinâmica que faz com que estes encontros secretos perdurem. Um claro contraste com a liberdade que a personagem de Bomer encontra nas ruas de São Francisco, três décadas depois, numa das sequências mais arrepiantes e agridoces de uma minissérie que promete oferecer muitas outras deste calibre.
O primeiro episódio de "FELLOW TRAVELERS" está disponível na SkyShowime desde 19 de Novembro. A plataforma de streaming estreia novos episódios todos os domingos.