Pode até nem vir a ser das melhores séries do ano, mas "FANTASMAS" será, pelo menos, das mais idiossincráticas a passar pelo streaming. A nova comédia absurda de Julio Torres já pode ser vista na Max e agarra à primeira (mesmo que se estranhe antes de se entranhar).

Dois anos depois da segunda temporada de "Los Espookys", série delirante da HBO Max que fazia rir enquanto homenageava o cinema de terror numa lógica do it yourself, Julio Torres regressa ao pequeno ecrã. Pelo meio o realizador, argumentista, actor e comediante aventurou-se no cinema com "Problemista" (2023), a sua primeira longa-metragem, que coprotagonizou com Tilda Swinton, e a actriz britânica não é o único nome sonante que o tem acompanhado nos últimos tempos.
"FANTASMAS", comédia acabada de chegar à Max, tem Emma Stone entre as produtoras e convidadas de um elenco que reúne gente como Steve Buscemi, Paul Dano, Julia Fox ou Kim Petras (e Swinton volta a colaborar, agora ao dar voz a uma personagem). Torres está longe de ser um novato no humor (escreveu para o "Saturday Night Live" e actuou nos talk shows de Jimmy Fallon ou Seth Meyers na década passada) e é natural que tenha arrecadado alguns cúmplices mediáticos adeptos da sua linguagem singular, que parece ter aperfeiçoado na sua nova obra televisiva.

Natural de São Salvador mas residente em Nova Iorque desde os tempos de estudante universitário, ambienta "FANTASMAS" na cidade que nunca dorme e apresenta-a numa versão personalizada e surreal, pronta a acomodar uma fábula urbana (quem procurar realismo está na série errada) que se vai subdividindo em vinhetas. Dano e Buscemi destacam-se nas primeiras, com uma versão alternativa (e desbragada) de "Alf" e a história da origem de uma letra marginalizada, respectivamente. E não são as únicas do arranque de uma temporada de apenas seis episódios assente no quotidiano tumultuoso de Julio, interpretado pelo próprio criador, apesar de a história não ser autobiográfica. Mas vai deixando, como já acontecia em "Los Espookys", um olhar sobre os conceitos de normalidade e normatividade, ao qual não será alheia a experiência de Torres como imigrante e homossexual.
Às vezes a lembrar os filmes mais soltos e ariscos de Gregg Araki (realizador de "Mysterius Skin" e pioneiro do New Queer Cinema), a aventura começa com a tentativa de vender o conceito de um lápis de cor "clara" antes de dar prioridade à busca de um brinco de ouro em forma de ostra. Mas esses não são mais do que pretextos para Julio ir esbarrando em personagens que reforçam a estranheza dos ambientes, ambos lufadas de ar fresco entre demasiadas séries que já nascem formatadas. Louvemos, por isso, o assombro cómico de "FANTASMAS", certamente dos maiores convites ao inesperado do Verão que se avizinha.
"FANTASMAS" estreou-se na Max a 8 de Junho. A plataforma de streaming estreia novos episódios todos os sábados.